Avanço da doença na capital e no interior deixa autoridades em estado de atenção
A aposentada Eliane Vilarino, 68, escapou das quatro epidemias de dengue que atingiram Minas em 2010, 2013, 2016 e 2019. Mas foi no início de 2020 – quando especialistas e autoridades esperavam drástica redução dos casos da doença na comparação com 2019 – que a idosa, moradora do bairro São Pedro, na região Centro-Sul de BH, enfrentou os sintomas da enfermidade.
“Não conseguia nem lavar uma colher”, comenta ela, que está entre as 1.370 pessoas com resultados de exame pendentes para confirmar o diagnóstico de dengue na capital*.
Historicamente, epidemias de dengue em Minas foram sucedidas por dois anos de queda brusca de ocorrências da doença. Porém, levantamentos das secretarias de Saúde do Estado e de BH apontam elevação atípica de casos.
Na capital, pacientes com diagnóstico confirmado até a sétima semana de 2020 chegavam a 190, 15,1% a mais que os 165 registrados no balanço do período em 2019, ano da segunda pior epidemia da cidade.
A situação inspira cuidados também no Estado – até o último dia 10, Minas havia registrado média de 241 diagnósticos por dia. Embora os casos prováveis de dengue ainda sejam menores que em anos de epidemia, os registros da doença em janeiro (9.254) já são até quatro vezes maiores do que em anos não epidêmicos.
Adelino de Melo Freire Júnior, infectologista da Unimed-BH, afirma que ainda não há como se falar em nova epidemia, mas alerta que os especialistas já trabalham com a possibilidade de elevação do número de casos nas próximas semanas.
“As previsões estão ligadas à possibilidade da circulação de um sorotipo que não tenha circulado nos últimos anos e também por causa do alto índice de infestação de larvas (do Aedes aegypti)”, explica.
A avaliação dele vai ao encontro do que diz a Secretaria de Estado de Saúde: “Em virtude do risco de circulação de outros sorotipos da doença (DENV-1, DENV-3 e DENV-4), o Estado permanece em alerta e intensificando as ações de controle do vetor”.
Já o diretor de controle de zoonoses da Secretaria de Saúde de BH, Eduardo Viana, pontua que as chuvas intensas aumentam a preocupação quanto à reprodução do mosquito. “A gente não pode diminuir nossa responsabilidade. O setor público e o cidadão de BH têm de atuar para combater o mosquito”, afirma.
Estratégia
Para prevenção e controle de doenças como a dengue, o Estado aposta nos planos de contingência e no envio de equipes aos municípios que pedem ajuda.
A prevenção
Em Formiga, no Centro-Oeste do Estado, o número de casos de dengue até a primeira semana de fevereiro saltou de 32, em 2019, para 191 em 2020.
A alta de 496% levou o município a decretar situação de emergência por causa da doença. O problema está dentro dos imóveis, segundo Renata Nativo, responsável pela atenção primária em saúde na cidade.
“Quase 100% dos focos do mosquito (em Formiga) estão nas residências. Estamos fazendo nossa parte, mas a gente precisa de um retorno da população”, comenta Renata.
O diretor de controle de zoonoses da Secretaria Municipal de Saúde de BH, Eduardo Viana, concorda. “Dentro da biologia, não há nada mais simples do que eliminar o Aedes aegypti. Ele está adaptado aos reservatórios que a gente cria”, comenta.
Para Viana, estaria tudo resolvido “se a população tampasse a caixa-d’água, não deixasse o pneu pegando água”, mas essa tomada de consciência demanda tempo. “Então, a gente precisa fazer com que as pessoas percebam que têm que participar desse processo (de eliminar criadouros) e tomar aquilo como responsabilidade delas”, afirma ele. (O Tempo Online)